A ansiedade aparece diante de algo inesperado, desconhecido, com o qual não se sabe lidar ou algo muito aguardado.

O cérebro, diante dessa situação, se organiza para lutar, fugir ou congelar diante do perigo, precisa ficar em alerta; caso seja necessário, o cérebro estará pronto para agir e se proteger. Essa reação não se relaciona necessariamente a algo ruim, pode ser uma ansiedade para ir a um parque de diversões; se esse passeio representa uma quebra da rotina, então o cérebro fica “curioso”: como deve ser esse lugar? O que eu tenho de levar? Será que vai chover? Isso ocorre na intenção de ter tudo sob controle.

O problema da ansiedade é quando ela se torna um sofrimento, quando está presente no cotidiano e sua intensidade é exagerada causando angústia e até mesmo problemas fisiológicos (dores de cabeça, dores no estômago, dermatites).

Entendendo a ansiedade

A ansiedade é uma emoção essencial relacionada ao medo; todos nós temos ansiedade diante de algo novo e desconhecido: o primeiro dia no emprego desejado, o primeiro encontro com uma pessoa especial, conhecer os pais do(a) namorado(a), o dia anterior a um passeio esperado ou a uma tão sonhada viagem . Até os animais sentem ansiedade, quando caçam ou quando são a caça. Alguns medos são primitivos e estão presentes na mente do ser humano e dos animais desde o nascimento. São medos inatos, geneticamente herdado dos nossos antepassados, independem das experiências vividas. 

 

Na verdade, a ansiedade existe para deixar o ser humano e os animais em alerta ao perigo. Esse sistema neurofisiológico é bem complexo, ocorre diante dos nossos medos registrados pela evolução da nossa espécie. Aqui, porém, pretendemos apresentar um panorama simplificado.

Nos primórdios os seres humanos viveram por muito tempo sem ter a proteção de um lar como temos hoje. Eles viviam em cavernas e a única iluminação vinha do sol e da lua. Durante o dia, para caçar, precisava ficar em alerta em caso de aproximação de qualquer perigo, evitava clareiras onde os animais selvagens poderiam atacá-lo e ele estaria sem defesa. Até mesmo para colher os frutos, era preciso estar em alerta para os frutos venenosos.

Esse sistema de alerta também os protegia dos grandes penhascos para não caírem, dos rios e mares para não se afogarem e da escuridão, pois a noite era um perigo mortal, poderiam ser atacados por animais ferozes com pouca possibilidade de defesa. Por isso, o sistema que aciona a ansiedade foi de extrema importância para a sobrevivência da espécie humana. Sem esses cuidados, toda a espécie teria sido extinguida.

Esse é o motivo por que ainda hoje temos receio de nos aproximarmos de um penhasco, de uma sacada de um prédio muito alto, de entrar numa piscina ou nos banharmos no mar, de dormir no escuro quando somos crianças, ou até mesmo de andar na rua sem iluminação adequada.

Atualmente nem todos esses medos são necessários: podemos aprender a nadar, podemos simplesmente banhar-nos à beira do mar, podemos dormir no escuro, pois estamos protegidos por paredes na nossa casa, ou ficar numa sacada de um prédio, por conta das grades de proteção ali instaladas, mas para algumas pessoas, essas situações podem ainda causar um desespero muito grande.

O sistema acionado nesse tipo de situação é chamado de luta, fuga ou congelamento. Diante de qualquer ameaça de perigo, o nosso corpo aciona esse sistema para lutarmos com um animal que sabemos que podemos vencer, ou fugirmos, quando o cérebro tem certeza de que um combate seria mortal, ou o congelamento diante de algo cuja fuga é impossível, então o corpo paralisa e se finge de morto. Tudo isso é resolvido em questão de milésimos de segundos, nosso cérebro tem registrado tudo que representa perigo para nossa sobrevivência, não espera ter certeza – se o cérebro encaixa a imagem de um graveto nas imagens que ele tem registradas de uma cobra, ele vai acionar o sistema de luta e fuga, na dúvida é melhor ele correr ou lutar do que aguardar uma investida da suposta cobra. Esse sistema é perfeito!

No entanto, nos dias atuais, não temos nenhum leão nas proximidades de nossa “caverna”, muito menos temos de sair para lugares desconhecidos repletos de animais ferozes para caçar nosso único alimento do dia. Então, qual o motivo de a população mundial estar cada vez mais ansiosa, a ponto da ansiedade se transformar no Transtorno Mental que mais afeta a humanidade, assim como a depressão?

Primeiro vamos entender o que ocorre no nosso corpo quando a ansiedade é disparada, permitindo que o indivíduo foque totalmente na ameaça iminente a sua frente.

O nosso sistema nervoso autônomo (SNA) é o responsável pelo controle dos nossos processos fisiológicos básicos (respiração, temperatura do corpo, pressão sanguínea, fome, sede, sexo etc.). O SNA é dividido em dois sistemas: o Sistema Nervoso Simpático (SNS), que prepara o corpo para reagir diante do perigo e o Sistema Nervoso Parassimpático (SNP), que controla e equilibra a atividade frenética do SNS. Vamos analisar a ação do SNS diante do perigo:

  • o coração acelera os batimentos, podendo chegar a 1220%, para o fluxo sanguíneo chegue mais depressa nos músculos;
  • os pelos eriçam (arrepiam) para a pessoa parecer maior e mais assustadora, lembrando que a nossa espécie tinha muito mais pelos no corpo do que atualmente;
  • as pupilas se dilatam, relaxando os cristalinos e fazendo com que a luz chegue aos olhos, aumentando o poder de visão;
  • a respiração acelera para aumentar o suprimento de oxigênio no sangue;
  • o sangue deixa a superfície do corpo. Caso a pessoa sofra algum ferimento, não perderá muito sangue; este é levado para os músculos dando mais energia para a luta ou fuga;
  • os músculos ficam tensos para aumentar a força do movimento;
  • o sistema digestivo é colocado em espera, reduzindo a produção da saliva, por isso ficamos com a boca seca diante do medo;
  • Aumento da acidez no estômago e do trânsito intestinal para aumentar a produção de nutrientes pela digestão;

SISTEMA LUTA, FUGA E CONGELAMENTO

Como já foi descrito anteriormente, todos nós temos ansiedade, isso não significa que todos sofram, chamamos de ansiedade adaptativa, ela ocorre por algo novo e desconhecido e, assim que nos adaptamos ao novo, ela some.

No caso da ansiedade desadaptativa, há uma ansiedade exagerada, que causa sofrimento e muitas vezes impedindo de realizar tarefas que podem afetar sua vida pessoal, social, profissional e acadêmica.

A pessoa foge do que a assusta, há um medo muito grande de se expor e de ser julgado, podendo deixar de aceitar um cargo importante pelo fato de estar mais em evidência, ter de liderar uma reunião ou falar em público. Isso ocorre tanto em crianças como em adultos, a criança pode ter medo de fazer uma apresentação de trabalho na frente de todos da sala de aula, ler um texto em voz alta, mesmo que sentada na sua cadeira, os jovens podem ter medo de fazer seu pedido para um garçom ou pedir informações básicas, por exemplo,

O transtorno de ansiedade é muito amplo e pode ser subdividido em: fobias, ansiedade generalizada, ansiedade de separação, pânico, agorafobia, ansiedade social, estresse pós-traumático. Falaremos sobre cada um deles em um outro texto no site.

Agora, vamos entender como o sistema de alerta afeta as nossas reações fisiológicas quando estamos com ansiedade desadaptativa:

As reações são diferentes em cada pessoa, algumas podem ficar com dor de cabeça, dor no pescoço, por causa da tensão muscular, dor de estômago, rubor nos rostos, tensão no maxilar e até mesmo diarreia.

O importante nesse momento é lembra que a ansiedade é uma reação normal do corpo e que passa em alguns minutos, nesse tempo você precisa respirar lenta e profundamente, utilizando a respiração diafragmática, fornecendo mais oxigênio para o sangue e cérebro, acalmando a mente e diminuindo os pensamentos de medo. A meditação ajuda significativamente as pessoas com ansiedade, assim como a atividade física. Existem técnicas de relaxamento progressivo que auxilia nas tensões musculares, típicas do stress e da ansiedade. Em breve teremos um próximo texto falando sobre todas essas técnicas.

Lembre-se: Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, se enfrentar o bicho some!

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